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Vai financiar um imóvel? Saiba quais são as principais decisões do STJ a respeito.

  • 18 de setembro de 2024
  • Emanoel Dantas

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é a corte responsável por uniformizar a interpretação das leis federais no Brasil. Em relação aos financiamentos imobiliários, o STJ já proferiu diversas decisões importantes que influenciam a jurisprudência sobre temas como cláusulas abusivas, alienação fiduciária, correção monetária, anatocismo, e outros. Aqui estão algumas das principais decisões do STJ:

1. Alienação Fiduciária e Retomada do Imóvel

REsp 1.418.593/SP (Tema 708) – Retomada Extrajudicial do Imóvel:
O STJ decidiu que, em contratos de alienação fiduciária de bem imóvel, a execução extrajudicial prevista na Lei 9.514/97, que permite a retomada do imóvel em caso de inadimplência, é válida e constitucional. Essa decisão foi importante, pois reafirmou que o credor pode retomar o imóvel por meio de procedimento extrajudicial, sem a necessidade de ação judicial, desde que sejam observados os requisitos legais.
Impacto: Favorece os credores, como bancos, que podem retomar o imóvel de forma mais rápida e eficiente em casos de inadimplência, desde que cumpram as formalidades legais.

2. Correção Monetária pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH)

REsp 1.110.557/DF (Tema 295) – Correção Monetária e Taxa Referencial (TR):
O STJ decidiu que a Taxa Referencial (TR) pode ser utilizada como índice de correção monetária em contratos de financiamento habitacional celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Essa decisão ratificou o uso da TR como referência para atualização dos saldos devedores, mesmo em contratos mais antigos.
Impacto: A decisão consolidou a validade da TR, o que beneficia as instituições financeiras, pois a TR tende a ser inferior a outros índices de correção, como o IPCA.

3. Juros Remuneratórios e Anatocismo (Juros sobre Juros)

Súmula 121 do STJ – Vedação ao Anatocismo:
Embora não seja uma decisão recente, a Súmula 121 do STJ continua a ser referência em casos de financiamento imobiliário. Ela determina que “é vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada”. Isso significa que, salvo exceções específicas, a cobrança de juros sobre juros (anatocismo) é ilegal.
Impacto: A súmula protege mutuários de práticas abusivas relacionadas à capitalização de juros em contratos de financiamento imobiliário.

4. Renegociação e Quitação de Dívida com FGTS

REsp 1.188.050/PR – Uso do FGTS para Quitação ou Amortização de Financiamento:
O STJ decidiu que o mutuário pode utilizar o saldo do FGTS para quitar ou amortizar o saldo devedor de um financiamento habitacional, mesmo que o contrato não tenha sido formalizado dentro das condições do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Essa decisão ampliou as possibilidades de uso do FGTS.
Impacto: Favorece os consumidores, que ganham mais flexibilidade para utilizar seus recursos do FGTS em financiamentos fora do SFH.

5. Cláusulas Abusivas e Revisão de Contrato

REsp 1.061.530/RS (Tema 18) – Revisão de Cláusulas Contratuais:
O STJ reafirmou a possibilidade de revisão judicial de contratos de financiamento imobiliário, especialmente quando há abuso em cláusulas contratuais, como taxas de juros excessivas ou correção monetária inadequada. A revisão pode ser feita à luz do Código de Defesa do Consumidor (CDC), desde que haja comprovação de desequilíbrio contratual.
Impacto: Essa decisão reforça os direitos dos mutuários de questionar cláusulas que sejam consideradas abusivas e pedir a revisão judicial do contrato.

6. Devolução de Valores por Cobrança Indevida de Taxas e Seguros

REsp 1.639.320/SC – Cobrança Indevida de Taxas Administrativas:
O STJ decidiu que a cobrança de taxa de administração por parte de instituições financeiras em contratos de financiamento imobiliário pode ser considerada abusiva se não houver justificativa adequada. Isso inclui a cobrança de seguros embutidos que não tenham sido claramente informados ao consumidor.
Impacto: Consumidores podem pleitear a devolução de valores pagos indevidamente por taxas ou seguros não acordados de forma transparente.

7. Tabela Price e Sistema de Amortização

REsp 973.827/RS – Validade da Tabela Price:
O STJ confirmou a validade do sistema de amortização pela Tabela Price em financiamentos imobiliários, desde que o contrato preveja expressamente sua utilização. A Tabela Price é um sistema onde as prestações são fixas, mas com parcelas de juros maiores no início e menor amortização do principal.
Impacto: A decisão reforça a validade desse sistema de amortização, utilizado amplamente nos contratos de financiamento imobiliário, desde que o consumidor tenha sido adequadamente informado sobre sua aplicação.

8. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC)

REsp 1.253.309/PR – Aplicação do CDC em Financiamento Imobiliário:
O STJ reafirmou a aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) em contratos de financiamento imobiliário, permitindo a revisão de cláusulas que sejam consideradas abusivas, como taxas de juros elevadas ou correção monetária inadequada.
Impacto: A decisão favorece mutuários, ao garantir que eles podem buscar proteção com base no CDC em situações de abuso contratual.
Essas decisões do STJ são importantes porque estabelecem precedentes que orientam juízes de instâncias inferiores e asseguram maior proteção aos consumidores em contratos de financiamento imobiliário, ao mesmo tempo que trazem segurança jurídica às instituições financeiras.

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